quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O fascismo antifumo

ar desta cidade está cada vez mais irrespirável. É poluição e emanações pestilenciais vindas de todo os cantos. Daqui a pouco só será possível fazer minhas caminhadas com máscara de oxigênio. Agora o governador baixou a Lei Antifumo, que cria uma brigada de caça-fumantes em locais públicos fechados. Se ele pensava em acabar com a poluição ao eliminar fumaça de tabaco, enganou-se. A fumacinha dos cigarros não passa de um suspiro no cataclisma de poluição. Se o tabaco mata, há fumaças piores assassinando nosso cotidiano. A lei antifumo só presta para criar uma cortina de fumaça de celebridade para quem a baixou.
Com ou sem ela, o Apocalipse respiratório está entre nós. A pouca área verde disponível de São Paulo está sendo devastada até o último arbusto, o último pernilongo, por causa da abertura da área final do Rodoanel. Animais silvestres são mortos, casas são derrubadas e torres erguidas. Criam-se nuvens de poeira por todos os quarteirões.
O City Lapa, onde passeio, foi tombado como patrimônio, mas já é tarde. O que restou do bairro arborizado são algumas ruas cercadas de monstruosos prédios de mais de 30 andares, em empreendimentos lunáticos que vendem a área como playground e cinzeiro dos edifícios. Os novos habitantes desses prédios infestam as praças com seus cigarros, crianças, skatistas e delinquentes. As árvores “tombadas” morrem de asfixia.
Voltando ao tabaco, encontro-me no espaço ao ar livre do Kinoplex Itaim. Sinto fumantes por todo lado, esbaforidos e angustiados, com pavor de sofrer perseguições e olhares reprovadores. Não acho fumantes a melhor companhia, mas não os culpo pelo vício, nem penso que mereçam ser perseguidos como os judeus do gueto de Varsóvia. A lei antifumo tem o mesmo efeito da lei do saquinho de excrementos caninos e da lei seca: é nula. Baseada na autoridade da Medicina, ela exclui, estigmatiza e suprime a liberdade do cidadão. Tabaco agora tem status de drogra pesada. Daqui a pouco será vedado à população soltar gases – por conta do metano, altamente tóxico. Já vi o símbolo: uma bunda atravessada na diagonal por uma tarja negra. Vêm aí os caça-puns.
O governo vai pôr em ação uma divisão especial de fiscais para perseguir fumantes, multá-los e até detê-los, caso necessário. Ainda bem que este não é um país “sério” como dizia o general De Gaulle. Não há fiscal suficiente para marcação homem a homem, como agia a tropa de choque de Mussolini. O fascismo à brasileira provoca gargalhadas. No final, os cães vão continuar a sujar, os bebuns a dirigir e os fumantes a brincar de chaminés... nem que seja molhando a mão das “autoridades”.

Nenhum comentário: