quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Árvores abatidas

andava distraidamente pela calçada do outro lado da rua da minha casa quando o funcionário da Prefeitura me alertou com um “psiu!” que eu corria risco de ser morto pela queda da árvore gigantesca que ele e sua equipe estavam derrubando naquele momento. Corri para a rua para me esquivar e só então notei que tombava uma frondosa sibipiruna de mais de 15 metros de altura, a mais bonita da praça Ada Rogatto. Eu sabia que a árvore tinha mais de 70 anos, e havia sido plantada pelos paisagistas ingleses que criaram o bairro do City Lapa, no fim dos anos 20. E me avisaram que outras quatro árvores da mesma espécie – raros exemplares da Mata Atlântica, a sibipiruna é uma das mais típicas da Paulicéia – teriam o mesmo destino, porque o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), da USP, analisou os troncos, detectou cupins e parasitas, e decidiu decretar o fim de todas elas. Eram tombadas pelo Patrimônio Histórico. Foram tombadas, pela Subprefeitura, sem dó.
A vontade foi de gritar, mandar parar tudo, reclamar com o Prefeito. Moradores pararam o carro e também protestaraam. Alguns chegaram a prometer uma ação imediata de protesto, abraçar as árvores. O vizinho comentou, entre resignado e arrasado: “Os técnicos disseram que árvore é como qualquer criatura, tem seu tempo de vida – e chegou a hora delas”.
Talvez tenha chegado mesmo, e talvez a gente seja excessivamente melodramático diante das plantas urbanas. Queremos abraçar criaturas despeparadas para a vida da cidade, sem nos dar conta do perigo que elas acarretam para os transeuntes, carros, fios, meios-fios e imóveis. Dizem ainda que as sibipirunas e outras árvores tradicionais morrem por causa da poluição, das pragas e dos maus-tratos do homem. São dinossauros, que precisam ser substituídos por tipos mais fortes, como ficus, palmeiras e... eucaliptos.
Ali perto de casa mesmo há uma horrenda Praça dos Eucaliptos lotada de árvores exóticas, fortonas, feias e plenamente adaptadas. São condenadas pelos ecologistas, mas a Prefeitura não irá tirá-las de lá. Afinal, só matam outras plantas que poderiam crescer rasteiras e sugam as águas subterrâneas. À sombra dos eucaliptos não cresce nada, só há terra estéril. Debaixo das sibipirunas e ipês, a grama é verde, as flores desabrocham, as crianças brincam...
Vou ter de lamentar calado, em nome da lógica urbana e do darwinismo arbóreo. Mas quero que saibam que não sou trouxa. Sei que o poder público não se preocupa em podar e tomar conta das árvores, o ônus recai sobre um ou outro morador idealista, que planta o que quer e como quer. Não há uma política de manutenção e de sustentabilidade das lindas árvores que ainda sobrevivem por aqui. Só reparam nelas quando estão tragicamente condenadas. O que sobrou da cobertura verde original de SP vai desaparecer sob a sanha dos cupins e das secretarias indiferentes. Será que ninguém se emociona mais? Na selação das espécies, que vença o mais fraco!