quarta-feira, 22 de julho de 2009

Moto-perpétuo

Eu queria nadar, correr, malhar, ler, ouvir música, namorar, beber, mas não consigo. Não posso, e não se trata de preguiça. Culpo esta vida trepidante que leva a lugar nenhum. Às vezes tenho a impressão de estar sendo puxado pelos dois braços, impelido para trás e para cima, como enganchado à fatalidade. Outras vezes a sensação é de uma reprise incansável das mesmas ações em nome do dinheiro. Trabalhar cansa, já dizia o poeta italiano Cesare Pavese. Viver esfalfa, escreveu o Conselheiro Aires.
Pensando bem, não importa o movimento que faça – se para frente, para o lado ou para trás – ou para onde me dirija, pois estou sempre aos círculos, apegado à circunvolução terrestre e ao destino de sua natureza, do ar que tenho de respirar, da água obrigado a beber.
As cidades se repetem como patos no carrossel. As populações globalizaram a tal ponto que sou incapaz de distinguir um país de outro, quase uma língua de outra. Não adianta sair da agitação de São Paulo, ir para, digamos, Londres – e lá encontrar os mesmos problemas e a mesma programaçao de cinema. Sei que por lá existe mais opção de cultura. Mas e daí, se não quero mais gastar outro dia de minha existência na National Gallery ou no Museu Britânico? Arte em excesso causa estresse.
O leitor me dirá que ainda resta a natureza como consolo e devaneio. Sim, eu sei, mas ela me leva às lágrimas. E embota os sentidos. Antigamente eu via uma árvore e isso servia para todas as outras. A regra se aplicava às praias, às montanhas e aos campos. Agora enxergo em cada uma dessas paisagens o germe de sua própria extinção. A visão embaça e fecho os olhos para não pensar mais nisso, como quando impeço que lembranças antigas e queridas me assaltem com sua tristeza parada no tempo.
Este planeta me dá claustrofobia. E pensar que o aquilo que há para além dele é pouco mais que o gelo seco de Marte, as tempestades de metano de Júpiter e Saturno, uma cratera de água rançosa no polo sul da Lua talvez... A ausência de gravidade e de oxigênio do universo me soa ainda mais angustiante que este lugar giratório e irritante que é a Terra.
Enquanto penso em tais bobagens, continuo a fazer aquilo que me sobrou e dá razão até mesmo a esta crônica. Ando por estas ruas e calçadas esburacadas atrás de um sentido para tudo, no encalço de mim mesmo escondido em algum ponto de fuga que eu possa achar na próxima esquina. Eis-me ali, tentando rir...