quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Padrinhos, cuidado!

É um absurdo. Fui convidado para ser padrinho de casamento. Aparentemente, trata-se de um compromisso dos mais singelos. O padrinho deve comprar um presente e se colocar em posição de sentido no altar. O único privilégio da função é ter um close-up do beijo do casal, além do direito ao banquete - caso haja, pois hoje o padrão é self-service e todo mundo comendo de pé com prato de plástico, antes do pagode eletrônico.
Eu pensava assim até o mês passado, quando me fizeram o convite. Descobri então um mundo novo de obrigações sociais e me tornei presa das mais variadas armadilhas. A começar pelo presente. Hoje está tudo mudado: os noivos querem os presentes mais exorbitantes. Eles “postam” no blog do casal uma lista de presentes, os mais caros do mercado. As lojas indicadas também já estão preparadas para a punhalada. São eletrodomésticos, móveis e outras engenhocas de última geração, a preços nada convidativos. E ai do padrinho se não comprar o melhor item da loja mais cara.
E isso não é tudo. O padrinho é forçado a fazer uma porção de coisas para as quais ele não está preparado. A pior é a roupa. Atualmente não basta você vestir seu melhor terno e se dirigir ao altar. Não. Em nome do sagrado sacramento, o padrinho cai numa arapuca dos diabos.
Os noivos já pensaram em tudo, até nos trajes. Eles me informaram que eu tinha de “tirar as medidas do terno” em uma loja de aluguel de roupas no Tatuapé , do outro lado da cidade! E mais: todos os padrinhos teriam de vestir o mesmo modelo de terno e gravata. O plano era coreografar no altar uma dúzia de padrinhos e suas respectivas mulheres (com longos em cores predeterminadas), fazendo o chorus line para a féerie de um casamento no Belenzinho! De jeito nenhum.
A noiva me ligou suplicando que eu não podia falhar. Engoli em seco e fui ao tal lugar. Estava lotado de padrinhos, vítimas como eu. Provei o terno horrendo – e me prometeram uma gravata acetinada, que não vi. Os noivos só não me contaram que eu teria de voltar lá para apanhar a roupa dois dias antes, pois até então seria usada por outro freguês. E não me avisaram que tudo isso custaria a bagatela de 150 reais, preço de um terno novinho em folha e comprado.
Caí na indústria do casamento. Vendo minha expressão, o alfaiate tratou de me consolar. Além de gastar os tubos, pagar o mico de me vestir como num coro de musical, tive de escutar esta: “O senhor está praticando uma boa ação, pois o noivo ganha o aluguel do fraque de brinde!” Hoje, o padrinho virou o melhor dos presentes de casamento: ele paga pelo show, dança e ainda provoca risos nos convidados.

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