sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Capital dos pombais

O destino dos bairros de São Paulo é verticalizar. Tudo tende a ser substituído por um imenso pombal branco e cinza. Pombais é como a gente chama pejorativamente essas torres que andam brotando por aí, nos lugares mais absurdos. Surgem no meio de uma favela, ou no coração de uma vila tradicional. Os pombais estão varrendo SP de Leste a Oeste.
Conto o que vejo. No início do ano, fui convidado a participar de uma reunião da comunidade da capela de São Miguel Arcanjo, no Belenzinho. Na pauta, o futuro do bairro. Isso porque a Zona Leste já não é a mesma. As humildes casas térreas estão indo embora. No lugar, chegam os prédios – e, com eles, novos moradores. Como abrigar tanta gente numa capelinha fundada por uma família na década de 1930? O dilema daquelas pessoas é escolher entre se isolar num gueto ou converter a capela numa igreja. Gueto está fora de questão, avisou o padre. Eu me meti na história e retruquei: será que a ampliação não significa o fim da paróquia e a substituição por outra realidade?
A História marcha apesar dos nossos desejos. Viver no século XXI tira o fôlego. Alguém se lembra de Moema vinte anos atrás? O bairro ainda lembrava uma cidade do interior, com sobrados, praças, lojas e prédios médios. Outro dia tentei passear por lá e me espantei com edifícios residenciais de 20 e 30 andares. É impossível reconhecer alguns trechos antes familiares. Os prédios que pareciam grandes hoje são anões perto dos condomínios monstruosos. E o meu hábito de andar pelo meio-fio virou esporte radical por lá...
E assim a paisagem urbana vai mudando. Fui atrás de horizontes na Praça do Por-do-Sol, em Pinheiros. Encontrei só prédios surgindo ao longe, como bombas de efeito retardado. No início parecem inofensivos, mas logo o trânsito adensa, a aparência enfeia, sol desaparece, o vento sopra e apaga a esperança de uma cidade civilizada.
O emblema do futuro de SP reside no passado. Mora na avenida do Estado, no Centro. Trata-se do edifício São Vito. Construído em 1959, ele foi o precursor dos torreões que enxameiam o espaço urbano. Com 27 andares e 3 mil moradores, o prédio virou cortiço vertical. Agora a Prefeitura estuda sua demolição e a reurbanização da área.Aí eu me lembro daquele verso de canção: se for pra desfazer, porque é que fez? Se é para um dia a gente ter de recuperar a paisagem perdida, para que fazer o que será desfeito? Já sabemos o final do enredo dos pombais nascentes. Eles vão destruir a arquitetura e o resto de verde e poesia da cidade. Basta contemplar o São Vito.

Nenhum comentário: