quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Mais nova ortografia

A linguiça que tenha paciência, mas trema é essencial. Pelo menos para mim. Até 2013, quando a lei férrea contra os erros ortográficos entrar em vigor, vou continuar a manter o simpático sinal na minha escrita particular. O leitor já sabe como gosto de escrever, a mão, sem outra máquina intermediando que o lápis e o caderno. E nenhum revisor abelhudo e cioso do Acordo Ortográfico vai me impedir de agir assim, mesmo porque ele receberá o texto eletrônico devidamente corrigido.
No meu dia a dia (agora sem hífen) e no meu íntimo, sigo com o trema. Em texto passado, nesta coluna, contei da visita de despedida que o Sr. Trema me havia feito. O leitor deve lembrar que o ancião saiu da minha casa contendo o pranto – e até me convidou a encontrá-lo no idioma alemão. O que não contei é que há dias bati um papo com ele no Messenger, para lhe desejar Boas Festas e dizer que não o abandonarei. “Mesmo pq o trema naum k-iu de todo, vc sabia?”, teclei. “Ele continua em expressões como mühleriano ou björkiano!” Sr. Trema me respondeu com um emotion de extrema felicidade. Sorri de volta. O internetês é o máximo de novidade que me permito.
Sou do tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça com trema e tudo. Quanto às outras novidades do Acordo Ortográfico, ainda estou tentando entender as alterações seguindo as orientaçôes do lexicógrafo Evanildo Bechara, o nosso gramático-mor (será que vai hífen?). Caiu o acento em “ideia” e “heroi” e outras palavras terminadas em ditongos abertos. Mas aí fico a me perguntar o que será do ótimo samba “Filho da véia”, de Luiz Américo e Braguinha. A letra diz o seguinte: “Sou filho da véia/ E eu não pego nada/ A véia tem força, ô/ Na encruzilhada”. Sem o acento, a “véia” vira “veia”. Bechara ensina que devemos atentar para o contexto e daí depreender se se trata do duto que carrega o sangue venoso ou a senhora mãe do compositor. Ora, pela letra, é impossível chegar a uma conclusão. Um E.T. que aprendesse o novo português e lesse a nova versão da letra, poderia interpretá-la como a manifestação do vigor do povo, que põe fé na veia, na força do sangue. Nosso E.T. vai demorar para compreender....
O pior mesmo é o hífen. Não sei ainda se ele agora serve para unir ou separar vocábulos. Fui informado que agora paraqueta e mandachuva estão unidos poara sempre. Mas o “não” se divorciou de palavrs como comparecimento e “aceitação” – assim como diz que me diz que e fim de semana.agora são palavras que andam em regime de amor livre. Em compensação, ‘trouxe-mouxe” segue com hífen. Justamente troux-mouxe, que significa ação desordenada, confusão...

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