ar desta cidade está cada vez mais irrespirável. É poluição e emanações pestilenciais vindas de todo os cantos. Daqui a pouco só será possível fazer minhas caminhadas com máscara de oxigênio. Agora o governador baixou a Lei Antifumo, que cria uma brigada de caça-fumantes em locais públicos fechados. Se ele pensava em acabar com a poluição ao eliminar fumaça de tabaco, enganou-se. A fumacinha dos cigarros não passa de um suspiro no cataclisma de poluição. Se o tabaco mata, há fumaças piores assassinando nosso cotidiano. A lei antifumo só presta para criar uma cortina de fumaça de celebridade para quem a baixou.
Com ou sem ela, o Apocalipse respiratório está entre nós. A pouca área verde disponível de São Paulo está sendo devastada até o último arbusto, o último pernilongo, por causa da abertura da área final do Rodoanel. Animais silvestres são mortos, casas são derrubadas e torres erguidas. Criam-se nuvens de poeira por todos os quarteirões.
O City Lapa, onde passeio, foi tombado como patrimônio, mas já é tarde. O que restou do bairro arborizado são algumas ruas cercadas de monstruosos prédios de mais de 30 andares, em empreendimentos lunáticos que vendem a área como playground e cinzeiro dos edifícios. Os novos habitantes desses prédios infestam as praças com seus cigarros, crianças, skatistas e delinquentes. As árvores “tombadas” morrem de asfixia.
Voltando ao tabaco, encontro-me no espaço ao ar livre do Kinoplex Itaim. Sinto fumantes por todo lado, esbaforidos e angustiados, com pavor de sofrer perseguições e olhares reprovadores. Não acho fumantes a melhor companhia, mas não os culpo pelo vício, nem penso que mereçam ser perseguidos como os judeus do gueto de Varsóvia. A lei antifumo tem o mesmo efeito da lei do saquinho de excrementos caninos e da lei seca: é nula. Baseada na autoridade da Medicina, ela exclui, estigmatiza e suprime a liberdade do cidadão. Tabaco agora tem status de drogra pesada. Daqui a pouco será vedado à população soltar gases – por conta do metano, altamente tóxico. Já vi o símbolo: uma bunda atravessada na diagonal por uma tarja negra. Vêm aí os caça-puns.
O governo vai pôr em ação uma divisão especial de fiscais para perseguir fumantes, multá-los e até detê-los, caso necessário. Ainda bem que este não é um país “sério” como dizia o general De Gaulle. Não há fiscal suficiente para marcação homem a homem, como agia a tropa de choque de Mussolini. O fascismo à brasileira provoca gargalhadas. No final, os cães vão continuar a sujar, os bebuns a dirigir e os fumantes a brincar de chaminés... nem que seja molhando a mão das “autoridades”.
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quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Bafômetro e liberdade
Fui a uma cantina do Bexiga no sábado à noite e fiquei pela primeira vez em dúvida sobre mudar um velho hábito: escolher um vinho para acompanhar a pizza. Ora, esse não era e nem deveria ser um tema para discussões metafísicas ou dilemas morais. Mas a nova Lei Seca me fez pensar um pouco. Só um pouco.
Meu problema não era culpa, mas a possibilidade de ser surpreendido por policiais munidos de bafômetro quando eu estivesse ao volante. E lá estava eu, praticando uma horrível transgressão, diante do olhar severo de minhas filhas. Garçom, que venha o cabernet sauvignon! E aqui faço a confissão do crime: sim, depois de duas taças de vinho e uma margherita, dirigi o carro até minha casa, arriscando o meu pescoço e o de minha família numa noite fria de fim de semana. Não, não adiantaria dizer eu não estava embriagado nem tonto. Eu seria detido!
Vou poupar meu querido leitor de uma aula sobre conduta civil e suas relações com a sobriedade à direção. Também não farei o elogio à contravenção. Não se trata disso. O fato irritante de toda a história de bafômetro no nosso pescoço está no chatérrimo clamor público em torno do assunto. Essas leis tendem a redundar em histeria coletiva - e o resultado é a perda progressiva de direitos mínimos. O cidadão que bebe e comete um acidente não teria já uma pena adequada com a legislação existente? Será que é preciso impor outro pacote de penalidades e submeter os motoristas à humilhação de um teste?
Pergunto isso porque a polícia não é lá grande modelo de conduta. Quantas vezes não vi nossos agentes da lei bebendo alegremente em padarias e bares nas tardinhas de sexta-feira... Agora aboliram a happy hour. Enfim, penso que, se a gente passasse a aplicar o bafômetro nos policiais ou nos funcionários do Detran, talvez não sobrasse ninguém para controlar o insidioso aparelhinho. Estaríamos todos vendo o sol quadrado.
E assim caminha a legislação. Os fumantes, coitados, foram banidos de todos os cantos. Chegou a vez dos bebuns. Daqui a pouco virá uma extensão da Lei Seca para os pedestres. Tenho certeza de que a arrecadação de multas vai aumentar bastante. Animada com os lucros, a polícia poderá inventar um aparelho controlar nossas boas intenções no trânsito, uma espécie de "mentirômetro" para aplicação indolor e imediata. Caso o indivíduo seja assombrado por algum pensamento ruim, ele será imediatamente recolhido ao xilindró.
Enquanto meu vaticínio não se cumpre, proponho um brinde à saúde de nossas instituições - e à nossa liberdade. Garçom, um pro secco, por favor. Depois eu peço uma carona.
Meu problema não era culpa, mas a possibilidade de ser surpreendido por policiais munidos de bafômetro quando eu estivesse ao volante. E lá estava eu, praticando uma horrível transgressão, diante do olhar severo de minhas filhas. Garçom, que venha o cabernet sauvignon! E aqui faço a confissão do crime: sim, depois de duas taças de vinho e uma margherita, dirigi o carro até minha casa, arriscando o meu pescoço e o de minha família numa noite fria de fim de semana. Não, não adiantaria dizer eu não estava embriagado nem tonto. Eu seria detido!
Vou poupar meu querido leitor de uma aula sobre conduta civil e suas relações com a sobriedade à direção. Também não farei o elogio à contravenção. Não se trata disso. O fato irritante de toda a história de bafômetro no nosso pescoço está no chatérrimo clamor público em torno do assunto. Essas leis tendem a redundar em histeria coletiva - e o resultado é a perda progressiva de direitos mínimos. O cidadão que bebe e comete um acidente não teria já uma pena adequada com a legislação existente? Será que é preciso impor outro pacote de penalidades e submeter os motoristas à humilhação de um teste?
Pergunto isso porque a polícia não é lá grande modelo de conduta. Quantas vezes não vi nossos agentes da lei bebendo alegremente em padarias e bares nas tardinhas de sexta-feira... Agora aboliram a happy hour. Enfim, penso que, se a gente passasse a aplicar o bafômetro nos policiais ou nos funcionários do Detran, talvez não sobrasse ninguém para controlar o insidioso aparelhinho. Estaríamos todos vendo o sol quadrado.
E assim caminha a legislação. Os fumantes, coitados, foram banidos de todos os cantos. Chegou a vez dos bebuns. Daqui a pouco virá uma extensão da Lei Seca para os pedestres. Tenho certeza de que a arrecadação de multas vai aumentar bastante. Animada com os lucros, a polícia poderá inventar um aparelho controlar nossas boas intenções no trânsito, uma espécie de "mentirômetro" para aplicação indolor e imediata. Caso o indivíduo seja assombrado por algum pensamento ruim, ele será imediatamente recolhido ao xilindró.
Enquanto meu vaticínio não se cumpre, proponho um brinde à saúde de nossas instituições - e à nossa liberdade. Garçom, um pro secco, por favor. Depois eu peço uma carona.
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