domingo, 22 de novembro de 2009

Natal apressadinho

Natal apressadinho



Para um andarilho compulsivo, nada é melhor que o Natal. Costuma ser um tal de decorar casas, lojas e templos, um tal de querer surpreender quem passa pela rua, que eu tenho vontade de ter crianças de novo só para levá-las a passear, e ver a expressão de espanto no rosto delas, iluminada pelo pisca-pisca de milhões de lâmpadas colorididas.
Mas neste ano aconteceu algo paradoxal. O desaquecimento econômico e financeiro global deu mais brilho à cidade. Os pinheiros de Natal e as luzes surgiram muito antes do tempo, ainda em outubro. .As lojas já estão superdecoradas, com anões e alces de Walt Disney e as nevascas falsas, ao som de “Jingle Bells”. Diante de um shopping center, um Papai Noel autômato gigantesco vira a cabeça de um lado para outro para atrair visitantes. Do rádio à internet, passando pela televisão, a festa já se instalou.
O motivo é tosco. A recessão faz com que os comericantes venham com muita sede ao pote. Eles que esperavam um natal como o do ano passado agora estão com medo de ver suas mercadorias encalharem. É o frenesi da oferta, embalada em maus presságios de demanda. Algo adequado à ocasião, não é mesmo?
Enquanto isso, a “noite feliz” de verdade tem sofrido abalos em várias frentes. Anos atrás, os padres deram início à decadência quando anteciparam o horário da Missa do Galo. Por temor de desagradar aos fiéis, a missa passou da meia-noite para as 7 da noite. Os moradores de um bairro famoso na Zona Norte por suas casas decoradas estão desistindo do Natal por temer a invasão noturna dos turistas – e a depredação do patrimônio. E se aparecer um Papai Noel na sua frente, tome cuidado. Há uma gangue fantasiada do bom velhinho pronta para assaltar você.
Talvez eu esteja sendo melodramático. Um caminhante da minha laia, que tudo fuça com curiosidade mórbida, tende a exagerar nos sentimentos. Devo estar triste porque não há mais ninguém lá em casa que acredite em Papai Noel. Ando por aí e me sento no meio-fio da calçada para observar quem sabe aquilo que quero ver. Deliro. E assim dou vazão ao meu pessimismo incontinente. O leitor me desculpe, mas nâo consigo evitar esta azia da alma.
O pior de uma festa é antecipá-la sem que tenhamos tempo de esperar por ela.. Pelo andar do assédio, quando o Natal propriamente dito chegar, não terá sobrado nada, nem compras e nem esperança. O Natal virou uma festa pela qual você não espera, pois ela corre atrás de você. Que medo!

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