quinta-feira, 24 de maio de 2012

Jorge Amado. Versão século XXI


IDEIAS - 16/05/2012 15h46 - Atualizado em 18/05/2012 15h34

TAMANHO DO TEXTO

Jorge Amado. Versão século XXI

O escritor foi primeiro consagrado como ídolo nacional. Depois, foi execrado como popularesco e sexista. Agora, volta a ser valorizado como um narrador capaz de falar para todas as tribos 

LUÍS ANTÔNIO GIRON

NOVO ROSTO A montagem retrata o escritor Jorge Amado na exposição do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo. Onze anos após a morte, sua obra volta a ser lida e interpretada (Foto: divulgação)
NOVO ROSTO

Da juventude à morte, em 2001, aos 89 anos, Jorge Amado atuou como o escritor brasileiro de maior prestígio e popularidade no mundo. A posição de relevo não o poupou dos ataques da crítica – que, em diferentes períodos e segundo os mais diversos critérios, encontrou em sua obra motivos de execração. A esquerda, que o incensara no início da carreira, condenou no final dos anos 1950 o abandono da agenda social pelo não dogmatismo. Nos anos 1960, os formalistas e puristas definiram seu estilo como desleixado. As feministas surgiram na década de 1970 para acusá-lo de populista e sexista. No fim da vida, ele ainda amargou o menosprezo dos universitários e da Academia Sueca, que anualmente concede o Prêmio Nobel de Literatura. Amado dizia não entender por que não recebera o tão ambicionado Nobel. Desconfiava de que os jurados, muitos deles comunistas “de longo curso”, ressentiam-se de sua rejeição ao stalinismo em troca de uma atitude moral leve, de ateu que rezava aos orixás, cosmopolita que, mesmo com berrantes camisas havaianas, preferia a religiosidade de sua Bahia natal às civilizações tidas como mais adiantadas.

A morte fez com que sua obra fosse relegada à indiferença. Os livros parecem ter morrido antes do autor. Os festejos de seu centenário ensejam a reedição dos livros e a nova versão da telenovela Gabriela, sucesso de 1975, que estreará na TV Globo em junho no horário das 23 horas com Juliana Paes no papel-título. Um dos maiores eventos é a exposição Jorge Amado e Universal, em cartaz até 22 de julho no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Depois ela seguirá para várias cidades brasileiras, Lisboa e Porto. Em agosto, mês do nascimento de Amado, a Academia Brasileira de Letras (ABL) promoverá uma exposição com palestras e exibições de filmes baseados em sua obra. O centenário é, acima de tudo, a ocasião para uma revisão crítica. É preciso separar os livros que permanecem dos que podem ser esquecidos. E avaliar o papel de Amado nos novos tempos.

“Jorge foi para o limbo, como acontece com quase todos os clássicos quando morrem”, diz a romancista Nélida Piñón. “Passados 11 anos de sua morte, ele precisa sair de lá e voltar ao convívio dos leitores.” Nélida e seus colegas acadêmicos Ana Maria Machado e Sergio Paulo Rouanet assumiram na ABL a missão de revisar a obra dele. Em março, o trio promoveu na Sorbonne, em Paris, um evento que discutiu o lugar da imaginação de Jorge Amado no século XXI. O esforço revisionista será repetido no Reino Unido, na Espanha e em Portugal. “Queremos incentivar a releitura da obra no exterior e no Brasil, e não apenas por um ou outro livro isolado”, diz Ana Maria, presidente da ABL. “Apesar de um título, Capitães da areia, fazer parte do currículo escolar, os estudantes já não têm noção da grandeza do escritor. Daí o convite: vamos voltar a ler Jorge Amado.”

A HEROÍNA A atriz Juliana Paes interpreta a retirante Gabriela na novela das 23 horas que vai ao ar em junho pela TV Globo. O romance Gabriela cravo e canela marcou a virada ideológica de Jorge Amado (Foto: Alex Carvalho/CGCOM)
A HEROÍNAA atriz Juliana Paes interpreta a retirante Gabriela na novela das 23 horas que vai ao ar em junho pela TV Globo. O romance Gabriela cravo e canela marcou a virada ideológica de Jorge Amado

A produção de Amado compreende 34 títulos, dos quais se destacam 21 romances. Há poesia, crônicas, memórias e panfletos como O mundo da paz, de 1951, uma apologia do stalinismo, depois renegada. Seus livros foram traduzidos para 49 idiomas em 55 países. Em vida, ele vendeu cerca de 50 milhões de exemplares em todo o mundo. O sucesso só foi superado, após sua morte, pela obra de seu protegido Paulo Coelho, com seus 100 milhões de cópias vendidas e tradução para 66 idiomas. Coelho ocupa desde 2002 a cadeira de número 21 na ABL, que pertenceu ao economi

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