sábado, 7 de abril de 2012

Lollapalooza, tão organizado que nem parece festival de rock

O primeiro dia do festival de rock Lollapalooza contou com uma audiência de 75 mil pessoas, que lotaram o prado do Jockey Club de São Paulo, de acordo com a produção do espetáculo. O evento se iniciou na manhã de sábado, e terminou antes da meia-noite. Foi certamente o espetáculo desse porte mais organizado da história de São Paulo, tão organizado que nem parecia um festival de rock. A “vibe” foi tão sossegada que as crianças conseguiram fugir do Kidzpalooza (a parte do festival dedicada aos baixinhos) e se juntaram aos adultos para assistir aos excelentes shows de Joan Jett and the Blackhearts e Foo Fighters. Até as habituais emanações de maconha se revelaram escassas dessa vez, devido quem sabe ao policiamento ostensivo do local. Prevaleceram a pontualidade das apresentações e a música, beneficiada por equipamentos de som poderosos e nítidos.

Não houve nem mesmo surpresas. As bandas brasileiras ficaram em segundo plano. Marcelo Nova mostra que Raul Seixas está cada vez mais parecido com ele, com um show arcaizante. O Rappa aterrissou sabe-se lá de onde, e não foi possível entender uma única palavra do vocalista e compositor Falcão, o que fez muitos perguntarem: “Afinal, sobre o quê é o Rappa?” Eu ainda não descobri a que vem a banda, e já fazem tantos anos que ela está por aí. A banda americana Cage de Elephant explorou a histeria de seu vocalista, Matt Shultz, uma espécie de Axl Rose de fraldas descartáveis. No final, depois de uma sequência de moshings, ele saltou nos braços de um público perplexo, que não sabia o que fazer com o sujeito, mais ou menos como Jeff Black no filme A escola do rock. A banda nova-iorquina TV on the Radio impressionou com a mistura de heavy metal com rhythm-n-blues. E Band of Horses agradou pelo clima retrô que criou num raio de poucos metros em torno dela, já que não foi ouvida lá no fundo.

Os melhores espetáculos da noite ficaram a cargo de Joan Jett & The Blackhearts e Foo Fighters. Joan Jett entoou os velhos hinos da rebeldia punk – que saudades deu ouvir “Cherry bomb” e “I love rock’n’roll” -, acompanhada pela velha parede sonora do punk de primeira geração. Depois ela voltaria para repetir “I love rock’n’roll” com Dave Grohl no ápice da noite, proporcionado pelos Foo Fighters. Grohl tocou todos os sucessos da banda, e parecia ainda mais entusiasmado do que o público já no... nirvana. Aliás, fica a questão: por que Grohl convidou tantos sósias do Kurt Cobain para tocar em seu conjunto? A certa altura do espetáculo, ele voltou à bateria – como na época do Nirvana – e deu lugar ao baterista, uma espécie de filho de Cobain. Foi amedrontador. Mas o show valeu por si só, pelo peso das guitarras e a crença que Grohl carrega em seu canto e seus gestos.

Dizem que Dave Grohl é o novo salvador do rock. Tenho minhas dúvidas. Eu não fui salvo, mas, mesmo assim, curti a noite.

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