quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Dia mundial sem nada

O Dia Mundial sem Carro, a acontecer no sábado 22, é uma idéia estimulante. Claro que pretendo aderir ao movimento, até porque não faço outra coisa que sair a pé aos sábados, escarafunchando os recônditos desta megalópole frenética, equilibrando-me entre as calçadas e as ruas, em busca de fatos inusitados. Virar um pedestre privilegiado me anima, até certo ponto.
No último domingo, assisiti na avenida Paulista a um atropelamento e constatei a banalidade da morte e do perigo, a frieza com que os outros passantes trataram o fato: a curiosidade mórbida ocupou o lugar da preocupação ou da solidareidade. Foi assustador. Bom saber que no próximo fim de semana poderei andar de modo mais livre... isso se as bicicletas não tomarem simplesmente o espaço dos carros e São Paulo virar a Pequim dos anos 70 por um dia. Talvez ser atropelado por uma bike seja mais ecologicamente correto do que por um veículo motorizado. Mas será que bicicletas solucionam o problema?
De tanto pensar em bicicletas, comecei a ficar com dúvida sobre a utilidade de um dia desses, consagrado ao não-carro. Talvez a efeméride não possa ir além da ligeira conscientização de que o sautomóveis fazem mal, poluem, são perigosos e cerceiam a liberdade de ir e vir do cidadão. Não seria a ocasião somente uma data utópica, uma entre as muitas que figuram no Calendário da Fantasia Humana? Além de tudo é sábado, um dia de lazer quando as pessoas querem virar por algum tempo bípedes e se ver livres dos veículos.
Pense comigo. Um Domingo Mundial sem Bicicleta não faria um efeito igualmente glorioso? Você há de concordar de que seria ótimo correr como gente em alguns parques, a gente livre do desempenho torto ou das trombadas dos ciclistas. E o Dia Mundial sem Motoboys? Quem sabe todos os problemas urbanos não se resolvessem sem esses desvariados condutores de motocicletas? Pode ser que o Dia Mundial sem Internet fizesse com que nossos filhos esquecessem o bate-papo virtual e voltassem a estudar. O Dia Mundial sem Chatos... sem Cachorros... sem Fubebol, sem Cobradores, sem Avião, sem Ecochatos, sem Documentos, sem Estado! Dá para sonhar também com o Dia Mundial sem Chefe. E por aí vai.
Ha realmente figuras e fatos cuja a ausência preencheria uma lacuna em nossas vidas. Por isso, vou sugerir a uma ONG qualquer o Dia Mundial sem Nada. Nesse dia, de preferência uma segunda-feira, a grande família humana será conclamada a não pensar em nenhuma coisa em particular. Aproveitará 24 horas para não trabalhar, não sonhar nem esperar o dia que virá, esquecer o próprio nome por alguns segundos. Quem sabe a gente acorde na manhã seguinte com alguma idéia que transforme o mundo de verdade?

Nenhum comentário: