quinta-feira, 22 de maio de 2008

São João sem quentão

O governador acaba de baixar uma nova lei férrea: fica proibida a venda de quentão e vinho quente durante as quermesses de São João nas escolas. Porque, segundo o dignitário, vinho quente e quentão são bebidas alcoólicas – e, portanto, inadequadas ao consumo de menores de idade. Trata-se de mais uma medida moralizadora de alta eficácia qie o governo derrama sobre nossas mentes insanas. Depois do saquinho de cocô de cachorro, da lei seca e da lei antifumo, nada mais oportuno que proibir que nossas crianças bebam álccol em pátios de escola.
E é uma medida verdadeiramente histórica. Afinal, desde a Idade Média, em Portugal, onde essa bandalheira começou, os pequenos bebiam vinho e bagaceira quente, enquanto dançavam e cantavam em torno da fogueira para celebrar São João. Com a descoberta do Brasil, o gentios introduzium a maldita da cachaça, que, associada a insidiosas especiarias do Oriente – cravo, canela, açúcar –, deu origem à infame beberagem do quentão. Quantas gerações não foram conspurcadas e precocemente extintas por conta da bebida que moveu tantas quadrilhas e coreografias idiotas do folclore luso-brasileiro!
Felizmente, gestões anteriores trataram de criminalizar o balão, que tantos danos causaram ao Brasil e ao mundo. Hoje quem cultua o fogo que plana merece a cadeia. Agora se trata de criminalizar o folclore – que, no fim das contas, não deixa de ser o pior inimigo da saúde, do progresso e das inovações sociais. O folclore do quentão é mais uma consequência da ignorância proverbial de nossa Pátria.
Se nós, brasileiros, queremos de fato vencer finalmente o complexo de vira-lata, cumpre, sim, que costumes indecorosos sejam eliminados de nossos folguedos populares. Em vez de quentão e vinho quente, ofereçamos às crianças coca-cola e guaraná, este um produto totalmente nativista. E se elas quiserem bebida quente, vamos lhes vender a preços módicos chá de boldo do chile para o estômago e camomila para os nervos. E a farmacopeia indígena pode inspirar os organizadores de quermesses... desde que evitem o cogumelo e o Santo Daime, por exemplo.
Agora que o governador aboliu o quentão, que tal substituir a perigosa fogueria por um forno microondas? Seria mais seguro, higiênico e até pedagógico. O microondas funciona melhor como totem da alta tecnologia. Fogueiras só produzem fuligem e são muito, muito prejudiciais. Desde os tempos medievos, quantas crianças não pularam da quadrilha direto para as garras do diabo ao tentar pular fogueira?
Outra sugestão diz respeito aos trajes caipiras. Para que as crianças vestirem aqueles andrajos, bigodes de carvão e chapéus de palha desfiados que só rebaixam o homem do campo contemporâneo e seu agribusiness? Governador, torne já ilegal esse traje ridículo, por favor. É fundamental baixar uma lei que institua definitivamente a vestimenta de caubói nas quermesses de escola, cuja tradição é mais limpa e elegante, e já conta com muitos seguidores. Aliás, vamos chamar São João de outra coisa. Basta de crendices com santarrões católicos. Que tal Festa Junina do Cauboi? O veto ao quentão é o começo de uma nova era para nossa gente.

Um comentário:

Alex disse...

Ridicula sua menção à aboliçao dos trajes caipiras. Tanto eles quanto as fogueiras trazem à tona nas épocas de folia a cultura de nossos antepassados. O que você propõe é nada mais nada menos do que enterrar nossa cultura e rumar à um país ou mesmo planeta homogeneo, onde nossas raízes históricas nao merecem ser ressaltadas e no que dependerem de você, fica no papel e na lembrança dos mais velhos até sumir de vez. Nao!
Quando À proibição do quentão, acredito que faz sentido, uma vez que a maioria das escolas não tem competencia para monitorar todas suas crianças. As fogueiras prejudicam o meio ambiente, de fato. Mas os desmatamentos, os fornos para produção de materiais de construção sem fiscalização, emitem muito mais poluiçao do que as famosas fogueiras que são brotam nas festas dos santos. Pondo na balança a importancia de ressaltar e adroar nossas tradições em relação à poliçao de meia duzia de fogueiras, acho que não devem ser proibidas nao. E no que diz respeito à segurança das crianças, cabe aos pais e à organização do evento deixar a postos responsáveis que evitem tais tragédias.
A respeito do vestuário das festas, você se mostra o mais preconceituoso afirmando que tais alusões ridicularizam o povo interiorano e chama tais roupas de ridículas ainda por cima. Enquanto a maioria e inclusive os próprios, se divertem com as vestimentas em questão.