quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Futebol e drama

Sou aquele torcedor que abaixa o som da televisão, liga o radinho e passa o fim de semana grudado nas notícias de seu time. Como palmeirense, meus últimos domingos têm sido repletos de emoções negativas: raiva, inveja, vontade de dar um coco no Marcos e um cascudo no Luxemburgo. Não vou apoiar os bárbaros que agrediram o treinador, mas consigo entendê-los. Onde já se viu jogar a toalha antes de terminar o campeonato?. E o desespero da equipe, capiteneada pelo São Marcos, o mártir, o louco? Enquanto isso, o São Paulo segue invencível e o Grêmio cola, na marcação agressiva e fria. Ficamos para trás, e lá se foi mais uma vez o meu domingo..

Por isso, prometi dar um basta ao futebol. Foi o que declarei à minha mulher à noite: “Perder mais um dia de sol, nunca mais!” Ela me olha divertida: “Você fala assim agora. Domingo que vem vai estar com o olho pregado na TV de novo”. Juro que não. Ela ri e diz que pelo menos times como o Palmeiras dão grandes emoções, diferentemente do São Paulo (é são-paulina), “que só ganha”.

Pensando bem, é isso mesmo. Há dois gêneros de time: os calculistas e os dotados de espírito trágico. O São Paulo pertence à primeira categoria. Deve seguir vencendo nos campeonatos de pontos corridos. O Palmeiras, assim como o Corinthians e a Portuguesa, comete tanto proezas como falhas épicas. Times assim lutam para fugir do rebaixamento porque amargaram na Segundona. Conhecem o drama. O tricolor permanece no alto, olímpico e indiferente aos concorrentes. Indiferente à precariedade humana, enfim.

Sou voz vencida, mas insisto em criticar o critério de pontos corridos. Ganham sempre as equipes regulares. Vejo o futebol como uma praça de touros. O sangue precisa voltar à arena. Sonho com a volta dos quadrangulares em mata-mata, a rivalidade entre torcidas, e a sorte. Talvez com o retorno do Corinthians, ano que vem, o Palmeiras recobre o seu papel. Pois não há drama sem antagonista.

Não é o caso do São Paulo. Penso nele como um Zeus de tragédia, que está matando o esporte lentamente, com o veneno da previsibilidade. Para salvar o que resta, minha sugestão é que, daqui para frente, o São Paulo receba o título de hors concours. Como o saudoso Clóvis Bornay nos concursos de fantasia. Digo sem malícia: Bornay vencia sempre, então os jurados lhe atribuíram a honraria de competir já como campeão. Que o São Paulo seja hors concours e deixe o os outros manter vivo o drama.. O futebol ficou sem graça.- exceto, obviamente, para os são-paulinos...

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